ANTÓNIO DA SILVA MEIRELES

VALE SEMPRE A PENA LUTAR!


Será que vale a pena lutar? 
 Claro que vale! Sem ganância, com amor, honestidade e solidariedade
VALE SEMPRE A PENA LUTAR “ António da Silva Meireles ”

 

Novelas...
Reinaldo Meireles

 

 
A life for a land. A life in a minute.
 
António da Silva Meireles 1935/2008

De certo já sabem, ás doze e cinquenta da tarde de hoje, dia nove de Outubro de dois mil e oito, morreu António da Silva Meireles.
Para alguns terá chegado agora, a altura de grandes discursos ou até as palavras de circunstância, de certo que ele não o queria assim, de certeza que não o defendia assim… decididamente que para muito poucos, apesar de ser assim, construiu-se um atalho mais fácil.
Um Humano…Membro da Associação Recreativa Novelense, Secretário da Junta de Freguesia, Presidente da Junta de Freguesia, Presidente da Assembleia de Freguesia, membro Assembleia Municipal e Presidente da Associação para o Desenvolvimento da freguesia de Novelas e por último um dos impulsionadores nos diversos projectos dos jovens de Novelas
Saiu sempre de cabeça levantada, com amigos em todos os quadrantes políticos, Sociais, Associativos e Organizativos terminando os últimos dias da sua vida como membro da Assembleia de freguesia e deixou verdadeiras histórias para contar.
Vamos por isso conhecer melhor António da Silva Meireles.



UM HUMANO
Um humano. Um dos poucos homens que acordou com uma vontade enorme de proteger e olhar o mundo de uma forma diferente em Novelas, filho de Engrácia da Silva e Manuel Meireles nasceu a 15 de Agosto de 1935 numa terra que o apegou desde muito cedo á Quinta da Folha e dos Penedos, local onde permaneceu até casar.
Precocemente ficou sem pai, e a sua família baralhada travou uma luta, que mais tarde viria a produzir efeitos, sendo o seu exemplo de vida.
Era o mais novo de oito irmãos e tornou-se num molde, com a orientação sempre apontada no sentido da união e do conceito de família unida.
Casou em Novelas, com Maria tornou-se pai de cinco filhos, dos quais um morreu prematuramente e dos quatro vivos, por ele instruído o mais semelhante fará recordar a história de um lutador e estadista, em Novelas.


Nos anos 60 ausentou-se da freguesia rumo ao Algarve mais propriamente para Vila Real de S. António, local onde passou algum tempo da sua vida nos caminhos-de-ferro.
Viveu sempre com um objectivo…a igualdade de oportunidades e a freguesia sabia que, com ele sempre poderia contar. Divertiu-se com os amigos e família, conheceu gente maravilhosa e estava sempre presente, com a sua força e coragem de um político, um pai e um avô, que será sempre reconhecido e permanecerá para sempre no coração da família.
Falar de António da Silva Meireles, é falar de um homem que estimulou sempre o conceito de família e a ela se manteve sempre unido, dos seus sete irmãos o mais velho, o Luís foi viver para Casal Garcia e cedo faleceu, mais tarde faleceu a Albina residente no Tojinho na freguesia de Novelas.
António da Silva Meireles, reestruturou a sua existência e a seu tempo organizou a primeira festa da família no jardim da Igreja do Carmo onde se reuniram quase uma centena de familiares… lá estavam todos… a família tinha crescido e o seu irmão Agostinho tinha certamente contribuído para que assim fosse.
Durante anos seguidos, fez sempre questão de unir e juntou-os novamente em Novelas, na Associação para o Desenvolvimento, notava-se o seu gosto e dedicação por uma causa que defendia.
Algum tempo, mais tarde desapareceu a Ana, residente nos Penedos, seguindo-se o seu irmão Manuel, que residia em Paços de Ferreira… a dor era muita, mas a vida teria que continuar.
Acabou por assistir á partida da sua imã Maria e o seu marido José, residentes no Amial, e permanecem hoje vivos Agostinho e Glória, residentes em Novelas.
São várias as pessoas pertencentes á família espalhadas por diversas freguesias, dentro e fora do concelho, a família Meireles estendeu-se nos concelhos de Penafiel, Paredes, Paços de Ferreira, Porto entre outros, locais onde se encontra realmente a linhagem mais directa.
Nos documentos por ele manuscritos pode ler-se “o importante nunca se tratou em entrar, mas sim de sabermos quando deveremos sair”, por isso desde que foi aliciado, para ocupar o lugar de secretário da Junta de freguesia de Novelas, conquistou essa experiência que mais tarde veio a transformar-se em vitórias consecutivas, de uma política que defendia.
O Socialismo
Nos anos 80 recebeu O primeiro-ministro Mário Soares e mostrou-lhe a beleza da freguesia de Novelas, no entanto a sua experiência adquirida ao longo de duas décadas, por todos os lugares públicos em Novelas não lhe deixava qualquer dúvida, de que alguns dos amigos que defendia, seriam os primeiros a abandona-lo e a tentarem esquecer as obras e convicções que o moviam, por isso mesmo preparava uma estratégia política que ia de encontro às suas convicções em conjunto com os seus verdadeiros amigos.
Como foi, o que fez e quem conseguirá fazer, na freguesia de Novelas jamais poderá ser comparado ou poderá ter o mesmo mérito e sabor da vitória que conseguiu alcançar.
Enquanto observava os cometas, quando estes se aproximavam da terra em mil novecentos e oitenta e cinco e entendia-se nas suas palavras a preocupação com o futuro, de que não somos donos do Universo e de que valia a pena lutar.
Empenhou-se em conjunto com amigos, para defender a antiga estação dos caminhos-de-ferro…foram um exemplo a salientar Joaquim Barros que termina os seus dias, com uma carta dirigida aos Novelenses onde mostra a revolta da deslocação antiga estação.

  
A retirada da antiga estação dos Caminhos de Ferro para o deserto, a construção do Matadouro, a poluição inalterável do Rio Sousa, ou até a impotência na resolução do acesso principal á variante, e a construção em altura numa terra cada vez mais consumista e onde se produz e se tem cada vez menos, fizeram parte das suas lutas sérias em favor da população.
António da Silva Meireles mostra e afirma algumas das suas convicções, organiza desfolhadas à moda antiga e o evento mais atractivo na Associação para o Desenvolvimento da Freguesia de Novelas com o êxito. 
O Cultivo do Linho.
O CULTIVO DO LINHO!

 

Em mil novecentos e noventa e nove, realizaria assim uma festa única, eram cerca de mil as pessoas, que se envolveram e neste trabalho pode-se realmente avaliar a sua capacidade e espírito de equipa.
Cantaram, dançaram, divertiram os Novelenses e quem participava, reuniram as várias entidades e amigos que estiveram presentes a salientar o Presidente da Câmara, Presidentes de todas as associações e instituições de Novelas e arredores, os amigos neurocirurgião Dr. Rocha Melo e Rui Melo da Quinta da Tulha entre muitos outros amigos.
Nota-se claramente e é de salientar a sua preocupação com a miséria, no entanto não conseguiu vencer o impulso do progresso sentindo-se impotente, sobretudo quando se tratava de proteger uma evolução selvagem.



A utopia terminou, mas… nunca foi vencido, apesar de sem dar por isso, o seu sonho se ter transformado algumas vezes em desilusão.
Em algumas das suas palavras, pode-se ler – “Ninguém deve acreditar na política que alguns estadistas exercem” chegando até a duvidar do seu próprio exercício político, ou então entre outras – “Novelas está a sofrer o maior desenvolvimento do Século XXI, mas nem sempre no melhor caminho”
Elogiou e abraçou o actor Ruy e João de Carvalho e participou e colaborou no projecto “José Raia Joaquim Picota - Vidas cruzadas” fantástico.
O seu empenho a sua alegria que transmitia, contribuiu em grande para uma realização com cinquenta e seis participantes, escrita pelo seu punho…foi efectivamente uma história admirável e deixa-nos boas recordações.
Continua vivo para alguns, outros entre muitos, hoje ainda não acreditam que acabou, mas a verdade é que não vão repetir o seu discurso como homem, nem as suas qualidades como uma das figuras mais relevantes da freguesia…

“FOI REALMENTE ÚNICO, FOI MEU PAI!”

Ninguém até hoje na freguesia conseguiu atingir um patamar tão alto de um homem que com a sua honestidade e naturalidade, ocupou diversos lugares públicos saindo sempre por vontade própria, no momento certo, e com amigos em todos os quadrantes políticos.
O seu combate, no trabalho e por todos os locais por onde passou, definiram os seus objectivos e deixou sempre claro, a preocupação com os outros, nomeadamente na pobreza, na política, e no rumo para onde o país e o mundo se encaminha.

 

Entendia que cada vez mais o objectivo que nos levava até ao espaço exterior, não se reflectia no espaço interior e dizia tal como BONNO que sem nos apercebermos estávamos com um pé na lua, descobríamos Marte, mas milhões de crianças morriam á fome pela falta de uma simples vacina.
Deixou-nos na realidade, um trabalho ímpar nos últimos trinta anos, ao serviço da freguesia e por todos os locais por onde passou.

Novelas...
Reinaldo Meireles






UM DIA VOU ENCONTRAR-TE PAI!


Uma brilhante metáfora da figura do pai que partiu e do filho que ficou desprotegido é certamente aquilo que senti com a falta do meu pai.
Dizem que o pai não vale nada, mas não importa. Para mim o meu pai, serviu de modelo do pai, e o modelo é uma força poderosa que move as pessoas em busca do pai verdadeiro que encontrei como herói, e referência básica no sentido da orientação e do respeito aos diferentes e aprendizes de limites necessários para a convivência.
Claro que também como filho aprendi com ele essa orientação e hoje como pai também sinto o dever de oferecê-la pois nesta conjunção entre a necessidade de um e o dever do outro, se dá e se criam as condições para uma educação adequada do filho, até ser pai de si mesmo.
O meu pai esteve e estará sempre presente e ao meu lado, o que contraria uma maioria conformada e que oculta a figura do pai por imposições sociais. Por isso encontram-se ausentes.



O filho não pode, nem tem que sentir um vazio, apesar de ser frequente nos dias de hoje...fazem-se opções de vida.
O filho espera o pai que não vem ou que saiu de cena ou que foi substituído pelo herói mais próximo, mas sem a figura interior do pai, o pai – herói e tem tendência a imitar e sentir-se vazio, perdido, sem rumo na vida, psiquicamente desorganizado e perdido.
Por outro lado o pai pelas opções feitas, ou até pela absorção do mundo, nem chega a sentir um dever de pai
Nesse caso para o filho, o pai é um anti-heroi.
A lógica do fim começa pelo princípio, um filho nos dois a três primeiros anos regista, é exactamente nesse momento que a influência da mãe lhe garante o sentimento de acolhedora e de amor incondicional, revertendo daí a auto-estima e a segurança da criança, e só mais tarde é que surge a figura do pai.
Por outro lado o pai é a ponte entre toda a família, e o mundo dos outros e da sociedade em geral, mas se o filho não tem junto de si o pai, entra num processo de ansiedade e de medo, deixa o centro da família e lança-se num mundo onde há diferenças, normas e conflitos de uma forma insegura.
O meu pai conseguiu manter sempre o centro da família, além da função de ser meu pai teve um papel fundamental em me ajudar a fazer a travessia, que sem ele não me sentiria seguro.
Ensinou-me a reconhecer e respeitar limites e acolher normas que lhe permitem conviver pacificamente com os outros, apesar de assistirmos á já algum tempo que numa maioria ambos, tanto pai, como filhos, se encontram em crise, ambos estão à espera um do outro com sofrimento e infinita saudade…
Bom, a verdade é que se fosse possível concretizar aquilo que os mortais mais desejam.
A primeira coisa que eu pediria aos deuses, seria que o meu PAI estivesse ao meu lado, mas sabemos que desejos não passam disso mesmo e eu sei que meu pai não pode voltar, recordo-o nos seus trabalhos, nas suas lutas e tentarei com todo o tempo e conforme me ensinou, seguir cada passo que deu, mas com mais segurança, até o encontrar.

Um pai

  Novelas...
Reinaldo Meireles